
Uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) verificou que o dialeto caipira está caindo em desuso em pelo menos oito cidades do interior do estado. Termos como bucho, goela, lombo, beiço e sovaco foram usados pelos entrevistados mais velhos, mas pouco lembrados pelos jovens, o que indica o desuso.
A pesquisa, da filóloga Lívia Carolina Baenas Barizon, teve a participação de moradores de Capivari, Itu, Piracicaba, Pirapora do Bom Jesus, Porto Feliz, Santana de Parnaíba, Sorocaba e Tietê.
Para realizar a pesquisa, Barizon se concentrou em palavras que descrevem partes do corpo humano. Com a ajuda de um desenho e munida de um questionário, ela entrevistou pessoas de diversas faixas etárias para saber como eles se referem a cada parte do corpo.
“Como se chama isto? Você conhece outro nome para isto? Quando a pessoa fica doente, às vezes, fica com dor no…?”, perguntava a pesquisadora.
“Eu chegava pros entrevistados e explicava o trabalho, de forma simples, antes de fazer as perguntas. Tem que ter muita sensibilidade para fazer esse trabalho de campo para a pessoa não ficar parecendo que está em um teste de conhecimento e não se sentir julgada”, explicou.
Seguindo esse método, o estudo verificou a frequência relativa de 85 termos – e quais as variações possíveis para cada um deles.
“Foi muito interessante ver como as partes íntimas foram as que mais tiveram variações e diversidade de vocabulário”, contou Barizon, autora da pesquisa.
“É engraçado porque a gente imagina que vai ter menos, que a pessoa vai ficar tímida, e ocorreu o contrário”, comentou.
Sob orientação dos professores Manoel Mourivaldo Santiago Almeida, da USP, e Maria do Socorro Vieira Coelho, da Unimontes, a pesquisadora apresentou os resultados do estudo em sua tese de doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) em fevereiro deste ano.