
A alta dos preços dos combustíveis nas refinarias da Petrobras é inevitável em razão do atual patamar de câmbio e dos preços do petróleo, e chegou atrasada uma vez que os preços praticados pela petroleira estavam há semanas defasados em relação à paridade de importação, afirmam especialistas ouvidos pelo g1.
“[A Petrobras] fez o que já deveria ter feito muito tempo atrás. É inevitável e estava atrasado já”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo. “A Petrobras comercializa commodities e é uma empresa de capital misto, então precisa dar o melhor resultado para os seus acionistas. Não faz sentido ela ficar praticando preços artificiais”.
Levantamento da Abicom mostra que, mesmo com o reajuste da Petrobras, o preço da gasolina nas refinarias no mercado doméstico ainda está com uma defasagem de 5% em relação à paridade de importação, e o diesel, de 9%, considerando as cotações de fechamento desta sexta-feira de câmbio e combustíveis nos mercados internacionais.
Desde 2016, a estatal passou a adotar para suas refinarias uma política de preços que se orienta pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e pelo câmbio. Neste ano, porém, a Petrobras passou a represar os reajustes, evitando repassar automaticamente as variações do mercado internacional e do câmbio
O consultor David Zylbersztajn, ex-diretor da ANP, avalia que a Petrobras “demorou” para fazer o reajuste uma vez que estava praticando preços abaixo da referência internacional. “Nesse tempo, a empresa saiu perdendo dinheiro. Volatilidade é uma coisa de mais curto prazo e não de 99 dias”, afirmou.
O diesel não era reajustado nas refinarias da Petrobras desde 10 de maio – há 39 dias. Já a última alta no preço da gasolina havia sido em 11 de março – há 99 dias. Foi o maior intervalo sem reajustes na gasolina em ao menos mais de 2 anos e meio.
O economista e consultor em finanças Álvaro Bandeira lembra que a Petrobras também importa diesel para garantir o abastecimento do mercado interno e que vender por um preço menor do que se paga significa “prejuízo na certa”.
“É bom lembrar que pior do que pagar caro por derivados de combustíveis é não ter combustíveis, ter desabastecimento e não poder escoar a produção, principalmente a produção agrícola e as exportações”, disse Bandeira, em entrevista ao Jornal Hoje.
O Brasil é deficitário em óleo diesel, tendo importado quase 30% da demanda em 2021.
Em comunicado divulgado nesta sexta-feira, a Petrobras reiterou o “compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado, ao mesmo tempo em que evita o repasse imediato das volatilidades externas e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais”.
“A companhia sempre contribui e participa das discussões técnicas que busquem amenizar os impactos dos preços de combustíveis”, acrescentou.