
A busca pela disciplina foi o que motivou a empresária Samara Pereira Ribeiro, 43, a matricular a filha, Maria Fernanda Pereira Ribeiro, 15, em uma escola cívico-militar da rede particular de ensino em São José do Rio Preto (interior de SP). Samara elege a rigidez como um dos pontos positivos da instituição.
“O aluno aprende a importância de ser disciplinado, passa a ter mais responsabilidade e entende que seu comportamento pode ter consequências“, diz a mãe da estudante. O fato de passar pelo período integral sem acesso ao celular é outro ponto que a empresária avalia como positivo. “A gente sentiu que teve uma diferença grande no esforço e na concentração dela.”
Samara, porém, destoa da maioria dos brasileiros: 7 em cada 10 disseram confiar mais em professores do que em militares para trabalhar em uma escola, segundo a pesquisa Ultraconservadorismo na Educação. Ela foi encomendada pelo Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e pela Ação Educativa e realizada pelo Datafolha, que ouviu 2.090 pessoas com 16 anos ou mais.
Atraente para um grupo de pais como Samara, o modelo baseado na militarização cresce no país desde o início do governo Bolsonaro (PL).
PROGRAMA AVANÇA COM INJEÇÃO NO ORÇAMENTO
Foram as regras rígidas de conduta, além da vestimenta, que fizeram a autônoma Pâmela Cristina Gonçalves, 40, transferir a matrícula da filha, Valentina Gonçalves, 12, para a mesma escola cívico-militar do interior de SP.
“Hoje minha filha é outra criança. Ela sempre deu trabalho para ir à escola e para estudar, o que piorou durante a pandemia”, diz.
Criado no início da gestão Bolsonaro, o Pecim (Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares) prevê que militares da reserva, como policiais, bombeiros ou membros das Forças Armadas, participem da administração das escolas.
No modelo cívico-militar das escolas públicas, as aulas são dadas por professores civis, enquanto a disciplina e a organização dos colégios ficam sob responsabilidade de militares da reserva, que são selecionados e capacitados pelo Ministério da Defesa.
Nas escolas da rede particular, desvinculadas do Pecim, a gestão é feita por associações de militares da reserva.
Os dois casos se diferenciam dos 14 colégios militares existentes no país, segundo o Ministério da Defesa, totalmente geridos pelo Exército.
De acordo com o MEC (Ministério da Educação), o Brasil tem hoje 216 escolas cívico-militares distribuídas em 26 estados e no Distrito Federal. Isso representa 0,1% de 178.370 instituições de ensino básico em 2021, segundo o Inep. Outros 89 colégios estão em fase de implantação.
Mesmo em número menor, os colégios cívico-militares tiveram o repasse triplicado pelo governo federal, de cerca de R$ 16 milhões em 2020 para R$ 45,1 milhões em 2021.